O que eu achei da Bolívia?

Eu estava louco para escrever sobre o assunto de hoje e finalmente esse dia chegou. Existem algumas coisas sobre a Bolívia que descobri durante a pesquisa que fiz antes de viajar e também absorvi durante a viajem. Tirei algumas conclusões sobre este país chamado Bolívia e quero compartilhar a quem possa interessar.

O que achei da Bolívia – primeiras impressões

A Bolívia é um país muito especial e ganhou minha admiração por toda sua sofrida história e pela sua riquíssima cultura local. No pouco que pude conhecer sobre a história e cultura boliviana, observei fatores muito interessantes que muita gente desconhece.

Quando se fala em Bolívia a primeira coisa que vem a cabeça das pessoas é droga e violência, pura ignorância!

Segurança

Em relação à segurança, confesso que quando estava programando a viagem pra La Paz, fiquei com muito medo. Naquela época eu não tinha tanto conhecimento sobre onde buscar informações e até nem existiam tantas opções como existem hoje, eu li alguns depoimentos em fóruns pela net, principalmente em sites gringos, onde as pessoas descreviam La Paz (e a Bolívia), como uma cidade extremamente violenta. Diziam que os taxistas sequestram os turistas, que pegam as pessoas pra roubar cartão de crédito, que não se pode andar na rua, blábláblá.

Mas pera aí! Poxa vida, se isso aconteceu alguma vez na Bolívia, também pode acontecer em qualquer parte do mundo. Mas da forma que os relatos deste tipo são (ou eram) propagados, se você não buscar outros meios (como por exemplo, o Mochileiros.com e os muitos blogs que existem hoje ), você desiste de viajar, porque fica com muito medo.

Mesmo lendo no Mochileiros.com, alguns relatos menos apavorantes, saí do Brasil com certa imagem negativa do país, cheio de medo e muito receoso com a tal violência que poderia encontrar lá.

Chegamos às 3 da madruga e eu saí andando com o taxista pelas ruas de La Paz atrás de troco, enquanto o Cleiton ficou no carro aguardando. Ali as coisas começaram a “clarear” e depois, com o passar dos dias, andando por todos os cantos, concluí que este papinho sobre a violência extrema em La Paz é furado!

Claro, não da pra marcar bobeira. Se você vai pra qualquer lugar do mundo e fica vacilando, você pede pra que aconteça algo, isso é lógico. Mas por ser um país mais pobre, imagina-se que seja mais violento, completamente errado! Qualquer cidade mediana do Brasil é mais perigosa que a “capital” boliviana.

Em relação às drogas, fico impressionado como as pessoas podem ser tão ignorantes. A associação da Bolívia com a droga é imediata, principalmente no que se refere à cocaína. Talvez pelo fato da folha de coca ser uma coisa normal na Bolívia e Peru as pessoas pensam que a droga rola solta na Bolívia, estão enganados também.

Folha de Coca

A folha de coca está presente na cultura dos povos andinos há milhares de anos, as antigas civilizações veneravam a “Mama Coca” como filha de Pachamama, a Mãe Terra. Pra eles a folha de Coca era uma oferenda dos Deuses para o povo, utilizada pra espantar os maus espíritos dos seus lares e plantações.

Séculos depois, foi utilizada pela elite aristocrática Inca para fins medicinais e religiosos. Chegou a ser instituído pelo Imperador Topa Inca, no século XV, que devido a sua condição sagrada, sua utilização só era permitida à elite do império Inca.

A folha de coca teve o aumento de sua popularidade no período colonial, onde os nativos escravizados pelos espanhóis, utilizavam a mastigação das folhas para aguentar os forçados e severos trabalhos que eram submetidos.

Os povos Quéchuas e Aimarás ainda hoje utilizam as folhas de coca em rituais de sacrifício, pois tradicionalmente acreditam que traga sorte e boa colheita.

Assim como a violência a droga também é quase inexistente pelas ruas de La Paz, ao contrário das grandes cidades do Brasil, não vi na rua nenhum drogado e até posso acrescentar um comentário que li por acaso em algum lugar quando buscava informações, “é muito mais fácil encontrar droga em qualquer cidade do Brasil do que em alguma cidade Boliviana”. Pelo menos pelo que pude perceber, se a quantidade de drogados na rua for parâmetro, concordo plenamente.

Notei ainda que existe uma grande resistência dos locais em relação a droga, “la coca” como chamam. Eles não gostam nem um pouco da associação da cocaína com a folha de coca, tanto que existem diversos materiais como camisetas, adesivos, etc, com as inscrições “La hoja de coca no es droga”.

Pelo que entendi e também pelo que vi no museu da coca, essa associação de la hoja de coca com a cocaína, é muito incomoda pra eles, por toda a importância cultural e sagrada da folha de coca na Bolívia e região dos Andes. Sim, sei que existe parte da coca plantada que

vai para a produção da droga, mas daí associar toda uma cultura a fatos isolados é muito errado. Um exemplo seria: vem um laboratório dos EUA pega erva mate, inventa uma droga a partir do mate, logo todo mundo começa a chamar quem toma chimarrão de drogado…

Vejam este vídeo, ele explica muito bem sobre a tradição da Folha de Coca, é fantástico!

Voltando ao assunto, fico impressionado com a ignorância das pessoas quanto a associação da Bolívia com drogas, sendo que a Bolívia é um país repleto de atrativos naturais, com uma cultura interessantíssima, um povo trabalhador, sofrido e guerreiro e uma história riquíssima em detalhes. Mas as pessoas desconhecem tudo isso e apenas assimilam uma viagem pra Bolívia com as drogas. Lamentável e irritante.

História

Quanto à pobreza, acho importante lembrar que a Bolívia ao longo de sua história foi saqueada e roubada em diversas situações. Começando com os espanhóis, que junto com outros europeus, escravizaram os povos locais e saquearam riquezas de todos os países da América Latina. Sabiam que a cidade de Potosí já foi uma das cidades mais ricas do mundo!? Pois é, toda sua riqueza foi levada pra Europa…

No ano de 1879, a Bolívia teve a maior perda de sua história na guerra do Pacifico, quando Bolívia e Peru lutaram contra o Chile, que saiu vitorioso da guerra. Como consequência, em 1884 a Bolívia perdeu sua única saída pro mar, a Província de Atacama, onde também está localizada a maior mina de cobre do mundo, a mina de Chuquicamata, que viria a ser uma das principais riquezas do Chile.

Em 1903, outra área de riquezas bolivianas foi perdida, desta vez a Bolívia foi obrigada a vender parte de seu território que era rico em seringueiras (na época, uma das maiores riquezas), pra evitar uma guerra que sabidamente ia perder. A Bolívia vendeu o Acre pro Brasil por um preço irrisório, existe até um popular conto que diz que o Acre foi trocado com o Brasil por um cavalo.

Entre 1933 e 1935, foi a vez do Paraguai travar uma disputa com a Bolívia, desta vez por Chaco Boreal, região na qual se acreditava ser rica em Petróleo. Após a guerra, uma arbitragem internacional estabeleceu a divisão deste território, nova derrota boliviana: dois terços territoriais para o Paraguai e um terço para Bolívia. (informações retiradas do guia independente do viajante na América do Sul).

Recentemente Evo Morales o primeiro presidente indígena na América do Sul, nacionalizou diversas empresas estrangeiras que “saqueavam” recursos naturais da Bolívia, entre elas a brasileira Petrobrás, que com aqueles “acordos super justos” entre os governos anteriores, (onde só um lado ganha) retirava gás da Bolívia e não pagava o devido valor, eu concordo plenamente.

E o que fui fazer na Bolívia?

Mas então… me revolta quando digo que fui à Bolívia e logo escuto perguntinhas – O que foi fazer na Bolívia? Trouxe quantos quilos de lá? Não tinha outro país pra ir? – é uma linha de pensamento muito pequena e preconceituosa.

Me impressiona que até pessoas bem esclarecidas não tenham conhecimento (e não queiram ter) de um país que está bem do nosso lado, é lamentável. Bom, pelo menos quando me perguntam o que foi fazer lá? Eu respondo veja minhas fotos… simples assim e olha que eu nem fui pra muitos lugares!

Que mais tenho a dizer sobre a Bolívia? Bastante coisa, mas o principal é que não vejo a hora de voltar e conhecer mais um pouco deste país fantástico. Eu adorei a Bolívia!!!

Lembre-se se for viajar para a Bolívia é obrigatório a vacina para Febre Amarela, saiba como tirar o certificado internacional e viaje tranquilo.

Com este post fecho a sequência de relatos feito sobre minha primeira viagem para Bolívia. Eu considero este post bem informativo e tudo que escrevi em 2010, basicamente mantenho até hoje. Esta é a conclusão que tirei naquele ano, rescrevo aqui, com algumas pequenas modificações e adaptações.

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